domingo, 18 de outubro de 2015

Dos Meus Livros: Galveias - José Luís Peixoto

Um rapaz das Galveias

Podemos tirar o escritor da aldeia mas ninguém tira a aldeia do escritor. Por muito que José Luís Peixoto viaje pelo mundo, meses a fio, com uma agenda digna de estrela pop, por muito que dê autógrafos na FLIP (Festa Literária Internacional de Parati, no Brasil), se instale durante uma temporada na Ledig House de Nova Iorque (lugar de criação para autores de todas as latitudes) ou jante com Umberto Eco em Paris, ele nunca deixa de ser um rapaz das Galveias, a pequena povoação do concelho de Ponte de Sor onde nasceu, há 33 anos. É esse, talvez, o segredo da sua humildade e de uma candura que desarma todos os que o conhecem de perto. Os altos voos nunca o deslumbraram e ele continua a ser o “filho do Peixoto”, como repete certa personagem do seu último livro (Cal, Bertrand, 2007). Que é como quem diz: um “filho da terra”, um filho desse Alentejo rural que tem sido a matéria-prima, mesmo se sublimada, de quase tudo o que escreveu até hoje.
José Luís começou a publicar muito cedo, ainda adolescente, nas páginas doDN Jovem (quando por lá andavam Pedro Mexia, José Riço Direitinho, Alexandre Andrade ou Margarida Vale de Gato). Foi no suplemento do Diário de Notícias, dirigido por Manuel Dias, que apareceu a primeira versão deMorreste-me, uma belíssima elegia em prosa sobre a morte do pai. Mais tarde, a versão ampliada desse texto acabou por se transformar no seu primeiro livro, publicado numa edição de autor minúscula e de capa preta (hoje uma raridade bibliográfica). O estilo de Peixoto está todo ali: um denso negrume existencial aliado a um ritmo encantatório, feito de frases bem desenhadas, repetições, síncopes, crescendos e um lirismo sempre à beira do derrame.
Esta forma de escrever atingiu o seu zénite em Nenhum Olhar (Temas e Debates, 2000), um dos melhores primeiros romances portugueses da última década, ao qual foi atribuído o Prémio José Saramago, da Fundação Círculo de Leitores. O romance seguinte, Uma Casa na Escuridão (Temas e Debates, 2002), marcou uma mudança na forma como o meio literário nacional recebe a sua obra. A factura do êxito súbito mostrou-se elevada: houve quem lhe apontasse uma dificuldade em libertar-se de uma lógica narrativa fechada sobre si mesma e surgiram os primeiros sinais de desconfiança face ao “fenómeno Peixoto”, nalguns casos indissociáveis da proverbial invejazinha. Talvez por isso, o seu terceiro e mais recente romance, Cemitério de Pianos(Bertrand, 2006), notável tour de force que cruza uma saga familiar com a história de Francisco Lázaro (o atleta português que morreu durante a maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912), esteve longe de obter o destaque que merecia.

Sem comentários:

ISABELA FIGUEIREDO LANÇA “UM CÃO NO MEIO DO CAMINHO”

https://youtu.be/qTt36ja7LOQ?si=Kjlj0eKp0zUYnBLY&t=168