Neste livro há uma triangulação amorosa que aparece também em "As velas ardem até ao fim" e em "Divórcio em Buda", "A herança de Eszter" e "A ilha". E a interrogação sobre o sentido da vida e da decisão sobre a própria morte.
Há uma referência às origens sociais de cada uma das personagens - a burguesia, a pequena nobreza aristocrática e o povo protaganizado pela Judit.
O livro tem três partes e um epílogo. O narrador de cada uma das partes é uma das personagens principais (Marika, Péter e Judit).
Destaco uma componente autobiográfica na caraterização de Lázar, o amigo escritor e Judit.
É, no entanto, esta reflexão que me atrai:
"...Precisei de vários anos para compreender que existe uma espécie de direito que não foi estabelecido pelos homens, mas pelo criador. eu tenho o direito de morrer sozinho, compreendes?...
...
"Primeiro, a solidão torna-se difícil, como uma condenação. Há horas que julgarás insuportáveis. E talvez fosse melhor partilhá-las com alguém, talvez essa grave condenação ficasse aligeirada, se a partilhasses com um qualquer, com um camarada qualquer, com um camarada indigno, uma mulher desconhecida. Há momentos que são momentos de fraqueza. mas passam, porque a solidão também te abraça lentamente, a exemplo dos misteriosos elementos da vida e do tempo, em que tudo acontece. subitamente compreendes que tudo aconteceu no tempo certo..."
...
"Quando isso sabes, e já mais nada esperas dos homens, nem esperas ajuda das mulheres, conheces o preço do sucesso e as terríveis consequências do dinheiro e do poder, quando, doravante, mais nada queres da vida do que te retirares para um buraco, sem companhia, ajuda e comodidades, e ficar à escuta do silêncio que, a pouco e pouco, começa a ressoar também na tua alma, como nas margens do tempo... então, tens direito a partir. Porque esse é um direito teu.
Cada ser humano tem direito a preparar-se, sozinho, num silêncio claustral, para o momento em que vai dizer adeus ao mundo, e para a morte."
in páginas 205 a 207
in páginas 205 a 207
A Mulher Certa, de Sándor Márai
Dom Quixote, 2007
Tradução de Ernesto Rodrigues
418 págs.
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