sexta-feira, 19 de julho de 2013

Mel de Ian McEwan

Serena Frome é uma jovem mulher apaixonada por leitura, mas boa o suficiente com números para se ver pressionada a fazer algo a respeito. Formada em Matemática pela Universidade de Cambrige sem destaque algum, no entanto, ela sabe nunca foi nenhum gênio. É após escrever um artigo literário que sua vida muda.

O que o destino reservava para Serena não era um caminho no mundo das palavras. Bem, talvez até seja, mas depende do ponto de vista. Uma série de encontros e desencontros envolvendo o professor Tony Canning acabam levando-a até a MI5, o Serviço Secreto Britânico, que por sua vez leva até a missão que consiste em manter contato com Tom Haley, um escritor a quem não pode contar que é uma espiã, nem que o dinheiro que ele passará a receber virá do Estado, nem muito menos que o grande objetivo por trás de sua chegada é influenciar a obra. Serena acaba apaixonada por Tom, mas mal sabe ela que ainda há muito mais água a rolar do que poderia imaginar.
Eu era a mais simples das leitoras. Só queria o meu mundo, comigo dentro, devolvido para mim de maneiras artísticas e de uma forma acessível.
Serena é um livro para ser digerido, e não engolido. Ele deve ser pensado, apreciado com calma. Abordando temas como a crise econômica e política da Inglaterra dos anos 70, a Guerra Fria e o serviço secreto, nem por isso ele é sobre ação, espionagem ou, apesar dos casos amorosos, romance. Esse é um livro sobre conexões, significados, referências.

Foram várias as vezes em que me peguei pensando que a protagonista-narradora poderia muito bem estar expondo uma espécie de diário. A narrativa em primeira pessoa passa uma sensação de intimidade e por vezes também a de exagero de detalhes. Nada imperdoável ou massante, mas presente. Pode parecer estranho ter estado em espera por tanto tempo e ao mesmo tempo sedenta por mais desse estado de suspensão agora, porém fui privada de pensamentos do gênero até muito depois de terminar a leitura.
Na minha opinião havia um contrato tácito com o leitor, que o escritor devia honrar. Nenhum elemento de um mundo imaginário e nenhum dos seus personagens deveria poder se dissolver por causa de um capricho do autor. O inventado tinha de ser tão sólido e consistente quanto o real. Era um contrato que se baseava numa confiança mútua.
Acredito que quem tem maior conhecimento histórico poderá desfrutar muito mais o que vai encontrar. Só para citar um exemplo: Serena é filha de um bispo anglicano e tem uma irmã hippie e envolvida com drogas. Pode não parecer grande coisa, mas isso faz diferença se formos levar em consideração o cenário do país na época, os próprios personagens etc. Sãos muitos os pequenos detalhes que podem fazer toda a diferença.

Com regras, sedução e um final surpreendente, Serena é um prato cheio para aqueles que se propõem a buscar leituras inteligentes. E que fique aqui um destaque para a questão da inteligência absurda. Sim, é ele que vai ditar o ritmo. Sim, é ele que vai ditar até as emoçõesque vão te atingir. A pergunta é: você está pronto para ser tomado de assalto?

Sem comentários:

ISABELA FIGUEIREDO LANÇA “UM CÃO NO MEIO DO CAMINHO”

https://youtu.be/qTt36ja7LOQ?si=Kjlj0eKp0zUYnBLY&t=168